
Proposta de Formação Continuada
Este documento apresenta um programa de formação continuada para professores focado na alfabetização de alunos com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Estruturado em quatro encontros formativos, o programa aborda desde os fundamentos teóricos até estratégias práticas de mediação e avaliação, oferecendo ferramentas concretas para educadores.
A formação está alinhada com a Lei 14.254/2021 e baseia-se em referenciais como o DSM-5, Barkley e Vygotsky, promovendo uma abordagem inclusiva e cientificamente fundamentada.
Cada encontro foi desenhado para proporcionar não apenas conhecimento teórico, mas também oportunidades de aplicação prática e colaborativa, culminando na produção de um documento de boas práticas para a alfabetização de alunos com TDAH.
Tabela de Encontros Formativos
Esta tabela apresenta a estrutura dos encontros realizados no âmbito da formação continuada voltada à alfabetização inclusiva de alunos com TDAH.
Cada linha descreve um encontro, abordando o tema central, os objetivos pedagógicos, as atividades desenvolvidas, os produtos esperados e a conexão direta com os objetivos da pesquisa.
O material visa sistematizar o percurso formativo, evidenciando a progressão dos conteúdos e a aplicação prática das estratégias inclusivas mediadas pela plataforma EducaInclusão.
Encontro 1 – Compreendendo o TDAH
O primeiro encontro da formação tem como foco principal a construção de uma base sólida de conhecimento sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), visando sensibilizar os educadores sobre como esse transtorno se manifesta especificamente no contexto escolar. Este momento inicial é fundamental para alinhar conceitos e estabelecer uma linguagem comum entre os participantes.
Fundamentos Teóricos
A abordagem teórica deste encontro está ancorada em referenciais científicos atualizados, como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e os estudos de Russell Barkley, pesquisador reconhecido internacionalmente por suas contribuições para a compreensão do TDAH.
Estes referenciais permitem aos educadores compreender o transtorno como uma condição neurobiológica que afeta aproximadamente 5% das crianças em idade escolar no Brasil.
É essencial que os professores compreendam que o TDAH não é resultado de má educação ou falta de disciplina, mas sim de alterações no funcionamento cerebral que afetam principalmente as funções executivas, responsáveis por organização, planejamento, atenção sustentada e controle de impulsos.

Implicações Pedagógicas
As manifestações do TDAH no ambiente escolar são diversas e frequentemente mal interpretadas. Alunos com este transtorno podem apresentar dificuldades significativas na alfabetização, não por incapacidade cognitiva, mas por desafios relacionados à sustentação da atenção, organização de pensamentos e autorregulação.
O conhecimento dessas características permite ao educador reconhecer quando um comportamento é decorrente do transtorno e não uma atitude deliberada de desinteresse ou indisciplina.
Manifestações na Atenção
-
Dificuldade em manter o foco em atividades de leitura e escrita
-
Distração com estímulos irrelevantes durante as aulas
-
Esquecimento frequente de materiais e instruções
-
Perda do interesse em tarefas longas ou repetitivas
Manifestações na Hiperatividade
-
Inquietação constante (bater pés, mexer em objetos)
-
Dificuldade em permanecer sentado durante as atividades
-
Fala excessiva ou em momentos inapropriados
-
Movimentação frequente pela sala de aula
Manifestações na Impulsividade
-
Interrupção da fala de colegas e professores
-
Responder perguntas antes de ouvir completamente
-
Dificuldade em esperar sua vez em atividades e jogos
-
Tomada de decisões sem pensar nas consequências
Marco Legal
Um aspecto fundamental deste encontro é a apresentação da Lei 14.254/2021, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Esta legislação representa um avanço significativo no reconhecimento dos direitos educacionais dos estudantes com TDAH e estabelece diretrizes para o atendimento adequado no ambiente escolar.
Principais pontos da Lei 14.254/2021 relevantes para educadores:
-
Reconhecimento do TDAH como condição que requer adaptações pedagógicas
-
Garantia de acesso a métodos e técnicas pedagógicas específicas
-
Necessidade de formação continuada para professores
-
Implementação de estratégias diferenciadas de avaliação
ATIVIDADES PRÁTICAS
Para consolidar os conhecimentos teóricos, o encontro propõe a realização de um mapa conceitual coletivo, construído a partir dos saberes prévios dos participantes e enriquecido com as novas informações apresentadas.
Esta atividade não apenas sintetiza visualmente os conceitos-chave, mas também funciona como um diagnóstico das concepções dos educadores sobre o TDAH, permitindo identificar possíveis misconceptions que precisarão ser trabalhadas nos encontros seguintes.
A dinâmica de abertura "O que já sabemos?" cria um espaço seguro para que os educadores compartilhem suas experiências e conhecimentos prévios, estabelecendo uma base para a construção colaborativa de novos saberes.
O questionário diagnóstico complementa esta abordagem, fornecendo dados mais estruturados sobre as concepções iniciais, que serão fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa associada à formação.
Encontro 2 – Estratégias Pedagógicas Inclusivas
O segundo encontro da formação centra-se nas abordagens práticas para incluir efetivamente alunos com TDAH no processo de alfabetização.
Partindo dos fundamentos teóricos estabelecidos no primeiro encontro, este módulo foca na operacionalização de estratégias pedagógicas concretas que possam ser implementadas em sala de aula.
Flexibilização Curricular
A flexibilização curricular não significa simplificar ou reduzir conteúdos, mas sim adaptar a forma como estes são apresentados e trabalhados.
Para alunos com TDAH, esta flexibilização pode incluir ajustes no tempo de realização das atividades, na quantidade de estímulos presentes nos materiais didáticos e nas formas de expressão do conhecimento.
"A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiência.
Os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará em conta esses limites e explorará convenientemente as possibilidades de cada um."
— Maria Teresa Eglér Mantoan

Estratégias Práticas para Alfabetização
1. Organização do Ambiente
O ambiente físico da sala de aula exerce grande influência sobre a capacidade de atenção de alunos com TDAH. Recomenda-se:
-
Posicionamento estratégico do aluno (próximo ao professor, longe de janelas)
-
Redução de estímulos visuais excessivos nas paredes próximas à área de trabalho
-
Organização clara de materiais com uso de cores e etiquetas
-
Criação de espaços delimitados para diferentes atividades
2. Adaptação de Materiais
Os materiais didáticos podem ser adaptados para maximizar o engajamento e minimizar distrações:
-
Textos com destaque visual para palavras-chave
-
Uso de marcadores de texto e réguas de leitura
-
Atividades segmentadas em partes menores
-
Uso de recursos multissensoriais (letras móveis, texturas, sons)
3. Mediação Pedagógica
A intervenção direta do professor é fundamental para o sucesso da alfabetização:
-
Instruções claras, diretas e fracionadas
-
Feedback imediato e constante durante as atividades
-
Uso de linguagem positiva e encorajadora
-
Estabelecimento de rotinas previsíveis com sinalizações visuais
4. Avaliação Adaptada
Os processos avaliativos devem considerar as especificidades do TDAH:
-
Avaliações em formato diferenciado (oral, projetos, demonstrações)
-
Tempo adicional para realização de atividades
-
Uso de instrumentos diversos ao longo do processo (portfólios, observação)
-
Valorização de progressos individuais em relação a si mesmo
Estudos de Caso e Aplicação Prática
Uma parte essencial deste encontro é a análise de estudos de caso baseados em situações reais.
Os participantes são convidados a aplicar os conhecimentos teóricos em cenários concretos, desenvolvendo planos de ação específicos para alunos com TDAH em diferentes estágios do processo de alfabetização.
Esta abordagem prática permite a contextualização das estratégias e a reflexão sobre sua aplicabilidade.Ao final do encontro, os educadores participam de uma oficina de adaptação de atividades, na qual transformam materiais didáticos convencionais em recursos mais acessíveis para alunos com TDAH.
Os resultados são compartilhados na Plataforma EducaInclusão, criando um repositório colaborativo de práticas que poderá ser consultado e ampliado ao longo do tempo.

Este componente digital da formação, representado pela Plataforma EducaInclusão, constitui um importante elemento de mediação e continuidade, permitindo que os educadores acessem os materiais e compartilhem suas experiências mesmo após o término dos encontros presenciais.
Encontro 3 e 4 – Da Regulação Emocional à Avaliação de Práticas
Mediação Docente e Autorregulação
O terceiro encontro da formação aprofunda os aspectos comportamentais e emocionais associados ao TDAH, apresentando estratégias de mediação que auxiliam no desenvolvimento da autorregulação dos alunos.
Esta abordagem baseia-se fortemente na teoria sociointeracionista de Vygotsky, que enfatiza o papel fundamental da mediação no desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
A dificuldade de autorregulação emocional é uma característica frequentemente observada em crianças com TDAH, manifestando-se como baixa tolerância à frustração, dificuldade em lidar com esperas e reações emocionais intensas.
Estas manifestações impactam diretamente o processo de alfabetização, podendo criar barreiras significativas para a aprendizagem.
Segundo a perspectiva vygotskiana, a regulação do comportamento se desenvolve primeiramente no plano interpessoal, através da mediação do adulto, para posteriormente ser internalizada pela criança como autorregulação.
Este princípio fundamenta as estratégias práticas apresentadas no encontro.
Zonas de Desenvolvimento
A teoria de Vygotsky sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é especialmente relevante para alunos com TDAH, pois destaca o papel da mediação adequada na transição entre o que o aluno consegue fazer com ajuda e o que poderá realizar de forma autônoma.
Funções Psicológicas
O desenvolvimento das funções psicológicas superiores (atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos) ocorre mediante processos de internalização mediados pela linguagem e interações sociais qualificadas.
Estratégias Práticas de Mediação

Contratos de Comportamento
Acordos visuais estabelecidos entre professor e aluno, definindo claramente expectativas, metas alcançáveis e consequências positivas.
Estes contratos devem ser revisados regularmente e celebrados quando cumpridos.

Uso de Timers Visuais
Recursos que tornam o tempo abstrato em algo concreto e visível, auxiliando na percepção da passagem do tempo e no desenvolvimento da capacidade de persistir em tarefas por períodos progressivamente maiores.

Rotinas Estruturadas
Sequências previsíveis de atividades representadas visualmente, que reduzem a ansiedade e a sobrecarga cognitiva, permitindo que o aluno direcione sua atenção para o conteúdo da aprendizagem.

Estratégias de Automonitoramento
Ferramentas que auxiliam o aluno a observar e avaliar seu próprio comportamento, como termômetros emocionais, check-lists e diários de bordo adaptados ao nível de alfabetização.
Durante o encontro, os professores participam de simulações (role play) que reproduzem situações desafiadoras frequentemente enfrentadas em sala de aula.
Esta abordagem vivencial permite que experimentem diferentes estratégias de mediação e reflitam sobre sua eficácia em contextos específicos.
A elaboração de um plano de rotina adaptada constitui o produto principal deste encontro, permitindo que cada participante personalize as estratégias aprendidas conforme as necessidades específicas de seus alunos com TDAH.
Este plano integra tanto aspectos comportamentais quanto pedagógicos, reconhecendo a interdependência entre regulação emocional e aprendizagem.
Consolidação e Avaliação das Práticas
O quarto e último encontro da formação proporciona um espaço para a sistematização e avaliação colaborativa das práticas desenvolvidas ao longo do percurso formativo.
Este momento é crucial para a consolidação dos conhecimentos e para a reflexão sobre o impacto real das estratégias implementadas.
A metodologia adotada neste encontro privilegia o protagonismo dos educadores, que compartilham suas experiências de aplicação das estratégias em seus contextos específicos.
Esta troca horizontal de saberes enriquece o repertório coletivo e permite a identificação de fatores contextuais que influenciam a eficácia das intervenções.

Roda de Conversa Avaliativa
A roda de conversa avaliativa constitui um momento fundamental deste encontro, no qual os participantes refletem coletivamente sobre questões como:
Quais estratégias se mostraram mais eficazes para diferentes perfis de alunos com TDAH?
Quais foram os principais desafios enfrentados na implementação das práticas?
Como as intervenções impactaram não apenas os alunos com TDAH, mas a dinâmica geral da sala de aula?
Quais adaptações foram necessárias para adequar as estratégias aos contextos específicos?
Como a Plataforma EducaInclusão contribuiu para o processo formativo e para a prática pedagógica?
Esta reflexão coletiva não apenas proporciona insights valiosos para o aprimoramento das práticas, mas também gera dados significativos para a pesquisa associada à formação, permitindo uma análise mais aprofundada sobre a eficácia da mediação digital via EducaInclusão.
Documento Final: Boas Práticas
O principal produto deste encontro é a elaboração colaborativa de um documento intitulado "Boas Práticas para a Alfabetização de Alunos com TDAH".
Este material sintetiza os conhecimentos construídos ao longo da formação e incorpora as experiências práticas dos participantes, resultando em um guia contextualizado e validado pela prática.
Fundamentos Teóricos
Síntese dos principais conceitos sobre TDAH relevantes para a prática pedagógica, apresentados de forma acessível e diretamente conectados às estratégias práticas.
Estratégias Validadas
Compilação das intervenções que se mostraram mais eficazes nos diversos contextos, com exemplos concretos de aplicação e resultados observados.
Recursos e Materiais
Indicação de recursos pedagógicos, modelos de adaptação de atividades e materiais de apoio que podem ser utilizados no processo de alfabetização de alunos com TDAH
Indicadores de Progresso
Orientações para o acompanhamento e avaliação do desenvolvimento dos alunos, com foco em uma abordagem formativa e processual.
Este documento é disponibilizado na Plataforma EducaInclusão, permitindo sua ampla disseminação e constante atualização a partir das contribuições da comunidade educativa.
Assim, a formação transcende seus limites temporais e espaciais, estabelecendo-se como um processo contínuo de construção coletiva de conhecimentos sobre práticas inclusivas para alunos com TDAH.
A avaliação final da formação contempla tanto a percepção dos participantes sobre seu próprio desenvolvimento profissional quanto indicadores objetivos de mudança nas práticas pedagógicas.
Esta abordagem multidimensional permite uma compreensão mais abrangente do impacto da formação e fornece subsídios valiosos para seu aprimoramento contínuo.